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General atacado por militares radicais por barrar golpe de estado rompe silêncio

Ex-chefe do Estado-Maior do Exército, general Stumpf quebrou o silêncio após ser atacado por militares e civis

Por Metrópoles 05/12/2024 08h08
General atacado por militares radicais por barrar golpe de estado rompe silêncio
Stumpf ficou surpreso quando soube que militares chegaram a lhe atribuir a pecha de “informante” de Alexandre de Moraes - Foto: Reprodução/Metrópoles

Quando militares radicais tentaram reunir apoio nas Forças Armadas para viabilizar um golpe de Estado em 2022, esbarraram na resistência de integrantes do Alto-Comando do Exército. Esses generais não cederam à pressão feita por tenentes, coronéis e, até mesmo, por colegas de patente que, agora, estão atrás das grades. O general Valério Stumpf Trindade, 64 anos, foi peça fundamental para enterrar o flerte na caserna com a ruptura democrática. Ele contou com exclusividade à coluna detalhes daqueles dois meses que sucederam a eleição presidencial.

“Tudo o que fiz foi com o conhecimento do Alto-Comando do Exército, alinhado com o [então comandante] general Freire Gomes. Existe uma lealdade muito forte no Alto-Comando”, iniciou.

Atacado por militares e pela parte da militância bolsonarista que almejava uma intervenção federal, foi torpedeado nas redes sociais. As ameaças eram acompanhadas de fotos de Stumpf e familiares. A filha do general chegou a ouvir que o pai era um “traidor da Pátria”. Antes da posse de Lula, as publicações tinham o objetivo de pressioná-lo a aderir ao plano. Depois, culpá-lo por permitir a transição de poder.

Stumpf ficou surpreso quando soube, ao ler a coluna, que militares chegaram, ainda, a lhe atribuir a pecha de “informante” de Alexandre de Moraes.

O general rebate: “Por ser chefe do Estado-Maior à época, eu tinha contato com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), então presidido pelo ministro [Alexandre de Moraes]. Estávamos discutindo métodos para reforçar a segurança e a transparência das urnas eletrônicas”.

“A minha interlocução era com a Secretaria-Geral do TSE. Aí algumas pessoas que não sabiam de nada distorceram tudo. Alimentaram a versão de que eu seria ‘informante’, uma espécie de ‘leva e traz’, uma coisa bandida. Isso nunca aconteceu. É uma inverdade e uma agressão à minha pessoa. O contato era institucional”, disse o general.

“Defendi a democracia em tempos complexos”


Alinhado com o Alto-Comando, Stumpf apresentou ao TSE uma proposta de fiscalização das urnas eletrônicas que veio a ser aprovada pela Corte por meio da Portaria 921, que instituiu o projeto-piloto com biometria. O general detalha: “O que nós solicitamos ao TSE era que ampliasse a segurança das urnas por meio de algumas práticas, como o teste de integridade com biometria. E essas medidas, de fato, foram implementadas. Foi muito positivo para reforçar a segurança das urnas. O foco sempre foi preservar a democracia, fortalecendo a credibilidade das urnas eletrônicas”.

Junto do atual comandante do Exército, Tomás Ribeiro Paiva, e com o também general Richard Nunes, Stumpf foi um dos militares mais atacados por não ter se dobrado à aventura de um golpe. Termos ditos internamente por ele, como “estabilidade institucional” e “impossibilidade de ruptura democrática”, ganharam contornos condenatórios quando vazados para grupos de militares e civis radicalizados.

“Vergonha eterna desses integrantes do ACE [Alto-Comando do Exército]”, escreveu um militar a outro colega de farda em mensagem interceptada pela Polícia Federal. “Vamos deixar esse general melancia famoso”, dizia a postagem de um civil com a foto de Stumpf em uma rede social.

Atualmente na reserva do Exército, o general Valério Stumpf Trindade diz seguir com a consciência tranquila: “Fui vítima de ataques por cumprir a minha obrigação. Defendi a democracia em tempos complexos. Tenho orgulho de ter agido de forma leal ao comandante do Exército e ao Exército Brasileiro”.