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Trabalhadores de pedreiras no sertão de Alagoas vivem em condições analogas a escravidão, diz FPI
Uma operação da Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) da Bacia do Rio São Francisco encontrou condições de trabalho extremamente precárias em duas pedreiras clandestinas em Estrela de Alagoas, na sexta-feira (29). Além dos danos ambientais, a fiscalização expôs uma realidade de exploração intensa dos trabalhadores.
No Sítio Boqueirão, os funcionários relataram jornadas exaustivas e pagamento muito baixo. Para produzir mil paralelepípedos – trabalho que pode durar até cinco dias –, eles recebem apenas R$ 600, valor dividido entre o cortador e seu ajudante.
Os trabalhadores não têm carteira assinada, equipamentos de proteção, água potável, locais para descanso ou banheiros. Eles trabalham descalços ou de chinelos, expostos ao sol, à chuva e ao barulho constante da quebra de pedras.
O procurador do Trabalho Rodrigo Alencar, que acompanhou a ação, classificou a situação como “superexploração”, com os trabalhadores “à própria sorte, sem qualquer garantia trabalhista ou proteção mínima”. As consequências do trabalho são visíveis: eles sofrem com calos nas mãos e dores crônicas nas costas e articulações.
Um trabalhador de 34 anos, chamado José, contou que começou nas pedreiras aos 14. Antes, trabalhava na lavoura, mas essa opção não existe mais. Outro, de 53 anos, disse que convive com dores desde os 15 anos de idade. “É o que restou para sobreviver”, afirmou.
Rafael Vanderley, coordenador da equipe de fiscalização, destacou que a investigação deve ir além dos donos das pedreiras e rastrear toda a cadeia produtiva, incluindo compradores e intermediários, já que parte da pedra é usada na pavimentação de cidades vizinhas.
O procurador Rodrigo Alencar reforçou a importância de responsabilizar todos os envolvidos na cadeia de exploração. “Essa é uma forma de romper com o ciclo da exploração”, afirmou.

