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Plateia de cinema em Maceió aplaude “Marighella”, o filme, e grita “Fora Bolsonaro”

Ao fim da sessão, na noite desta segunda-feira (01/11), assim que o nome do diretor Wagner Moura surgiu na tela, soaram gritos e aplausos na sala de cinema do Centro Cultural Arte Pajuçara, em Maceió. Logo em seguida, começou o coro de “Fora Bolsonaro”. Com ocupação quase máxima, havia poucos lugares que não foram vendidos, uma medida para seguir as regras decorrentes ainda da pandemia de Covid-19.
Foi a pré-estreia de Marighella, a obra que narra a trajetória do deputado, poeta e guerrilheiro baiano, classificado pelos golpistas de 1964 como o inimigo número um do Brasil. Um casal, ao meu lado na sala de exibição, puxou os berros contra “o governo fascista” de Jair Messias. Quase todo mundo acompanhou. O clima de apoio, festivo mesmo, era total com o filme de Wagner Moura (ator que estreia na direção).
Debater a qualidade da obra cinematográfica, neste caso especifico de Marighella, é uma complicação e tanto. É que, antes mesmo da estreia, o trabalho já era amado e odiado com a mesma intensidade, a depender da posição de quem fala em relação ao governo brasileiro. Bolsonaristas tratam o personagem como “terrorista”, e ponto final.
Como já afirmou o próprio diretor, estamos diante de um filme político. Mais que isso, um filme de alguém que “tem lado”, que contesta a bagaceira promovida por Bolsonaro. Nada de errado com essa escolha, desde que legitimamente assumida pelo artista, como faz Moura. Do outro lado, pelas redes sociais, e também nas esquinas, sobram xingamentos, ameaças e ataques à obra e aos artistas por parte da milícia bolsonarista.
Não, ainda não foi desta vez que o cinema brasileiro produziu uma obra-prima sobre os 21 anos da ditadura militar no país. Ficamos bem longe disso, aliás. Temos de esperar mais um pouco. Marighella é convencional e previsível, com duvidosos apelos ao melodrama, exposto com excesso nas cenas entre o pai guerrilheiro e o filho. Beira o nível das piores novelas da Globo.
Como diretor, Wagner Moura sabota a linguagem em todas as suas escolhas. Roteiro, fotografia, a reconstituição de época, os diálogos e a direção de atores reiteram a caretice da abordagem. Tudo bem, o que importa é “contar uma boa história”, diriam alguns. Não é bem sobre isso que estou falando.
Sobre a ditadura militar existem muitos filmes, embora a maioria aborde aspectos específicos, alguns muito peculiares, sem um olhar mais abrangente do período. Apenas no campo da ficção, lembro agora de Lamarca (1994), O que é isso companheiro (1997), O ano em que meus pais saíram de férias (2006) e Batismo de Sangue (2007). Com diferenças tão somente de estilo, temos aí uma pequena mostra que vai do horrível ao apenas razoável.
Mas o precedente mais significativo em comparação a Marighella talvez seja Pra Frente, Brasil, de 1982. Alvo de censura já nos estertores do regime, o filme segue como a maior afronta do cinema brasileiro à tirania da ditadura. Ao contrário da trilha adotada por Wagner Moura, o diretor Roberto Farias não contempla a utopia. Por aí.
O que eu penso sobre Bolsonaro, sua seita, seus devotos e patrocinadores, o leitor do blog já sabe há tempos. Sobre o filme de Wagner Moura, uma obra de arte, penso isso daí que você leu acima. Como diria o isentão que jamais serei, vá ao cinema e tire suas conclusões.
(Parêntese pra fechar: Seu Jorge, no papel do herói guerrilheiro, reafirma as qualidades de grande ator. Suspeito que ele estaria ainda mais forte se a direção não estivesse aquém de seu talento).
Blog do Celio Gomes

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