LÉO BASTOS

Em meio ao jogo de ego, adversários alagoanos usam diferenças para projetar mensagem fundamental.

Encontro em frente ampla mistura diplomacia com alfinetadas bem construídas. Mas há o melhor desempenho.

Por Leonardo Bastos/Colunista 30/10/2023 21h09 - Atualizado em 30/10/2023 21h09
Em meio ao jogo de ego, adversários alagoanos usam diferenças para projetar mensagem fundamental.
Tom diplomático de hoje sugere grandeza necessária à Alagoas - Foto: Assessoria

Para quem esperava um ringue sem sutilezas entre adversários políticos que dividiram palanque no lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC) em Alagoas, nesta segunda-feira (30/10), saiu frustrado. Até houveram alfinetadas, mas com bastante elegância e em tom diplomático. O presidente da Câmara, Arthur Lira, e do ministro dos Transportes, Renan Filho, colocaram as diferenças de lado – até certo ponto – e a mensagem foi de união de forças.


Renan Filho, com certeza, alfinetou mais que Lira. O ministro até cumprimentou o deputado com cordialidade, mas se dirigiu a ele, mesmo sem o citar nominalmente, ao fazer críticas ao volume de investimentos no governo Bolsonaro e os danos que a aprovação do teto de gastos causou à economia brasileira.


“O governo passado estabeleceu o chamado teto de gastos, que transformou o Brasil na economia relevante que menos investiu no mundo. Esse modelo errado foi rejeitado na eleição, exatamente um ano atrás. E hoje estamos aqui para celebrar o investimento”, dizia o ministro enquanto olhava para o presidente da Câmara.


Com oratória sempre espetacular em cena e sempre muito articulado nas argumentações, foi um discurso bem construído dentro do objetivo de respeitar a diplomacia, enquanto exalta o seu trabalho e evidencia a incompetência implicitamente. Só pecou por se prolongar demais e demonstrar paixão por si mesmo.


Aí que entra Lira e transmite o sentimento de pacificação em um discurso breve, conciliador e que não deixa de dar algumas porradas discretas, para bons entendedores, quando fez cobranças sobre obras de duplicação e asfaltamento em rodovias federais em Alagoas, porém externando torcida ao sucesso do trabalho do ex-governador frente ao ministério.


“Entra ministro e sai e não terminaram essas obras. Então a sua responsabilidade é maior do que a dos que passaram. Embora a gente tenha tido um excelente ministro também, Maurício Quintella, que não conseguiu dar cabo [das obras]. Mas eu não tenho dúvidas de que o senhor conseguirá”, desafiou Lira de forma elegante.


Mas o que torna o discurso de Lira, para mim (tecnicamente), o melhor da ocasião, é o fato dele reunir as características de ser breve, eficiente na comunicação direta aos gestores sobre sua influência na articulação de ajudas municipais, relevante ao momento e estruturalmente com o time adequado de sintetizar sua fala com a mensagem de que nenhuma diferença pode ser maior que os interesses em comum do povo de Alagoas.


“Perguntaram muitas vezes se eu vinha ao evento. Tenho certeza de que perguntaram ao ministro Renan Filho se ele vinha também. A eleição acabou no dia 30 de outubro. Ninguém sai daqui com pedaço arrancado, ninguém sai daqui arranhado. Saímos daqui com um recado: de que estamos olhando para a frente”, afirmou.


Ao sugerir caminhar para frente no clímax do discurso, Lira deixou claro que caminhar em lados opostos com o governador Paulo Dantas não o impede de estar naquela frente, e que este olhar adiante representa o atual governo federal. O passado fica para trás, pelo menos, por ora.


Esta mensagem anteceder a vez de Dantas, que encerrou o momento, passou a bola que o mesmo devolvesse a postura de Lira com uma resposta coerente à mensagem. O que nos separa, não pode ser maior daquilo que nos une aqui.


O que trará o futuro, há muito em jogo. Mas queria acreditar com este otimismo numa união de gigantes para um estado tão sofrido socialmente como Alagoas. Entre acertos, erros e poder de ambos, dividir é uma estrada longa para as soluções de tantos problemas.

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